1 Corintios 6:12 – Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convém.
Todas as coisas me são lícitas mas não me deixarei dominar por nenhuma.
*
Luis Fernando Priolli
Este preceito bíblico tem muito a ensinar ao
planejamento energético brasileiro, pois o Brasil é um pais que dispõe de
diversas possibilidades de fontes energéticas. Por isso, a cautela no planejamento da utilização combinada se justifica,
visando evitar problemas como algumas localidades já estão enfrentando, tal
como a Califórnia – EUA.
A Califórnia, reconhecida por estar
sempre na vanguarda da utilização de fontes energéticas mais renováveis, parece ter desconsiderado o preceito bíblico em
tela: Pois é totalmente lícito que se ambicione
buscar que sua matriz energética seja a mais ambientalmente sustentável possível; porém, não
convém desmobilizar o parque térmico sem levar em consideração que era
justamente essa fonte que conferia ao sistema elétrico da costa oeste dos
Estados Unidos - administrado pela California Independent System Operator
(CAISO) - robustez para o sistema como um
todo, ou seja, a capacidade do sistema aguentar as variações de carga e oferta.
Em função desta desmobilização das térmicas, sem
o devido suporte de outras fontes, está ocorrendo
diversos transtornos ao sistema elétrico da Califórnia, segundo a CAISO.
Cabe ao planejador público atuar com cautela, não se deixando dominar por nenhum conceito
pré-definido, uma vez que não serão poucas as
situações em que a realidade imporá a adoção
de medidas que não necessariamente serão as
mais populares e socialmente desejadas.
O preceito de Lucas 21:34 já ensina: “Tende
cuidado de vós mesmos, para que jamais vos suceda que o vosso coração fique
sobrecarregado com as suas ansiedades...”. O
equivale dizer que a ansiedade de obter um resultado não deve suplantar
a cautela necessária para alcançar determinado objetivo, em especial se
tratando do planejador energético.
Tais ensinamentos também precisam ser levados em
consideração pelos agentes que atuam no setor energético nacional, pois é lícito
desejar e criar as condições para que as energias renováveis conquistem cada
vez mais espaço na matriz energética nacional, porém não convém à sociedade brasileira
abdicar de incrementar, desenvolver e ampliar todas as demais fontes energéticas
disponíveis, dentre elas, as térmicas e as hidroelétricas.
O Brasil tem ainda hoje bastante potencial de
geração de energia elétrica através da hidroeletricidade e, portanto, não pode
desprezar isso, pois inclusive é uma fonte renovável também.
A energia elétrica gerada por térmicas, usinas
nucleares e hidroelétricas é imprescindível para
“estabilizar” o sistema administrado, no Brasil, pelo Operador Nacional do
Sistema (ONS).
A energia solar e eólica são fontes energéticas
importantes, e são o futuro das matrizes energéticas no mundo. Porém, a inserção dessas fontes na matriz não pode
desconsiderar aquelas que efetivamente estabilizam o sistema e assim
viabilizam, inclusive, a introdução dessas fontes na matriz brasileira.
Aliás, a
própria Bíblia, em Eclesiastes 1:5, retrata a questão da energia solar, de
forma objetiva: “..nasce o sol, e o sol se
põe...”. Ou seja, a energia solar, não
obstante todos os seus benefícios, precisa de
complementariedade de outras fontes ou soluções energéticas. Logo, a ansiedade de inclusão da fonte solar não
pode dominar o planejamento energético brasileiro, pois a combinação das fontes
é o que produz segurança ao sistema elétrico brasileiro.
Em relação à energia
eólica, podemos dizer que está também merece especial
atenção, pois Eclesisaste 1:6 retrata bem a
questão eólica: “O vento vai para o sul,
e faz o seu giro para o norte, continuamente vai girando o vento, e volta
fazendo os seus círculos.”. Ou seja, a imprevisibilidade e inconstâncias
dos ventos, não obstante estudos demonstrarem que existem locais onde os ventos
tem maior previsibilidade e constância, impõe que outras fontes façam o papel
de complementariedade da matriz.
O Brasil tem instituições que detém grande
quantidade de estudos que podem e devem ser levados em consideração para a
introdução das fontes renováveis na matriz, mexendo no mix brasileiro. Dentre elas destaca-se
a EPE – Empresa de Pesquisa Energética, que tem se debruçado sobre o
planejamento da expansão da oferta de energia elétrica no Brasil, e tem se
apoiado em uma série de estudos relevantes, tais como: o Plano Decenal da
Expansão de Energia (PDE), o Plano Nacional de Energia (PNE), além de diversas
notas técnicas com temas específicos sobre energia.
Causa, sem dúvida,
alguma ansiedade nos agentes as mudanças tecnológicas que estão ocorrendo
atualmente e a velocidade de tais avanços. Portanto,
é plenamente licito que se direcione bastante atenção a questões que serão
vetores das alterações que ocorrerão no futuro, tal como tecnologias de
armazenamento de energia elétrica, veículos elétricos, smart grids, etc; porém, não convém que pressões nacionais,
ou até mesmo internacionais, impactem a capacidade de se avançar nos estudos e de se implementar as alternativas constantes em tais
estudos, visando o pleno aproveitamento dos
potenciais energéticos que existem no Brasil.
Pelo caráter extremamente estratégico da energia
elétrica, é plenamente natural e desejável, e portanto lícito, que os estudos e
análises sejam feitos pelos diversos agentes que atuam no setor energético, com
plena liberdade, incorporando, é claro, as
mudanças profundas que estão ocorrendo, nos ambientes energéticos nacional e
mundial nos últimos anos, como consequência da necessidade oriunda de pleitos
internos, bem como acordos firmados pelos
países, em tratados internacionais, especialmente o Acordo de Paris (COP 21)
referente a (i) inserção de tecnologias de baixo carbono; (ii) evolução das
tecnologias de captura e armazenamento de carbono; (iii) armazenamento da
energia e (iv) geração distribuída de eletricidade (redes inteligentes) e (iv)
evolução das energia renováveis, porém não convém abandonar, ou criar
dificuldades ou embaraços, para que haja (a) exploração do potencial
hidrelétrico da Amazônia, (b) usinas para atendimento à base da demanda por
energia elétrica, (c) preços internacionais do petróleo, gás natural e
commodities agrícolas, (d) aumento do volume da produção nacional de petróleo e
gás natural, e (e) maior penetração do gás natural e do biogás na matriz.
O Brasil está na vanguarda da utilização de
energias renováveis em sua matriz elétrica. Então,
temos que é lícito que haja expectativa e preocupação da população local
com riscos ambientais e com o cumprimento dos rígidos padrões de segurança
internacionais em todas as etapas de geração da energia elétrica afastando ou
minimizando o risco de eventual desabastecimento, tal como está ocorrendo na
Califórnia. Por outro lado, não
convém que, em função de tais questões, não se avance, paralelamente,
em relação às demais fontes, sejam elas renováveis ou não renováveis, uma vez que o incremento destas impactará
positivamente na geração de grande quantidade de empregos e oxigenação da
economia nacional, com aumento da arrecadação de tributos e incremento na
economia local.
Esse é o desafio do planejamento energético
observar as intensas mudanças tecnológicas, sociais, ambientais e econômicas
que estão ocorrendo todos os dias no Brasil e no mundo, sem perder de vista os
ensinamentos que estão expressos em documentos milenares, tais como a Bíblia.
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