Por Jefferson Klein
Apontado como uma solução energética e ambientalmente correta, o biogás tem um longo caminho para percorrer no País para se aproximar de realidades de nações como, por exemplo, a Alemanha. Durante o 5º Seminário do Biogás, promovido ontem pela Câmara Brasil-Alemanha de Porto Alegre, ficou claro que é necessária uma legislação específica para esse assunto e que o governo precisa dar uma atenção especial ao setor para que o segmento se desenvolva.
O diretor-presidente da Eco Conceitos, Ércio Kriek, é um dos especialistas na área que defende a concretização de políticas públicas que facilitem a comercialização e o uso do biogás (que pode ser gerado por restos agrícolas ou dejetos de animais, como suínos e aves, além de resíduos orgânicos das cidades). O dirigente acredita que o Brasil tem potencial para aprimorar esse mercado.
De acordo com o empresário, o governo deveria conceder incentivos para esse segmento, pois se trata de um ganho ambiental muito grande. Kriek ressalta que já existem vários biodigestores no País. Porém, ele adverte que muitos não possuem a tecnologia bem elaborada da Europa. Isso acaba decepcionando os empreendedores, que não conseguem os resultados esperados.
Entre os aproveitamentos do biogás estão a geração de energia elétrica e em aplicações semelhantes as do gás natural, utilizado por indústrias, comércio e veículos. Kriek ressalta que o biogás é uma fonte energética que os europeus já dominam e usufruem. O empresário informa que, na Alemanha, existem mais de 7 mil biodigestores que produzem gás e possibilitam, consequentemente, a geração de energia elétrica. Na região da Baixa Saxônia, cerca de 25% do consumo de eletricidade é atendido pelos geradores de biogás. “No Brasil, neste primeiro momento, o sistema está sendo mais uma forma de tratar os resíduos, os rejeitos”, argumenta o dirigente. Atualmente, as experiências com o biogás no País são todas, praticamente, individuais para atender a demandas específicas.
O consultor da MT-Energie Tecnologia do Biogás Mario Coelho concorda que o desenvolvimento do biogás passa pela construção de uma legislação que lhe dê condições de comercialização. Para o especialista, a primeira opção de uso do insumo no Brasil em maior escala seria na produção de energia elétrica. Entretanto, Coelho indica possibilidades também na substituição do GLP, como gás de cozinha. O consultor acrescenta que os créditos de carbono poderiam ser um subproduto da atividade. Coelho adverte que não se deve desenvolver um projeto de biogás com os créditos como finalidade. Isso porque esse benefício só é concedido a empreendimentos que não sairiam do papel sem o apoio, e muitos complexos de biogás podem ser viáveis economicamente.
Walter Stinner, integrante do Deutsches Biomasseforschungs-zentrum (Centro Alemão para Pesquisa em Biomassa), enfatiza a versatilidade dos aproveitamentos do biogás. Stinner detalha que, após a fermentação e produção do biogás, as substâncias orgânicas que sobram podem ainda ser aproveitadas como adubo na agricultura. A maior dificuldade quanto a essa iniciativa é no campo logístico, pois os nutrientes estão misturados com água.
No Rio Grande do Sul, a Sulgás é uma das interessadas na viabilização e compra do biogás, afirma o engenheiro de produção da estatal gaúcha Cristiano Rickmann. “Se houver produção, conseguiríamos facilmente jogá-la na nossa rede”, diz o engenheiro. Ele ressalta que testes envolvendo plantas-piloto estão sendo conduzidos e demonstram que as aplicações veiculares e industriais são bem semelhantes às do gás natural convencional.