Os tempos de calmaria na Bacia do São Francisco ficaram para trás. Hoje, na parte da bacia localizada em Minas Gerais, Petra Energia, Petrobras, Orteng, Shell, Imetame Energia e Cisco exploram 39 blocos, totalizando uma área sob concessão de 111 mil km2, o que corresponde a 1/3 do total da bacia. Depois de mais uma década sem atividade, a região vive o maior boom de sua história, com programas de trabalho que projetam, somente para o período 2011-2012, a perfuração de no mínimo 12 poços e aquisição de 20,3 mil km de dados 2D, além de perspectivas de mapeamento 3D superior a 1,5 mil km2.
As campanhas programadas para esses blocos, arrematados na 7a e na 10a rodadas da ANP, permitem antever um volume de investimentos de pelo menos US$ 200 milhões nesse mesmo horizonte. Em caso de sucesso, esses indicadores tendem a pelo menos dobrar, o que tem animado os mineiros, sobretudo os residentes nas cidades de Corinto, Patos de Minas, Montes Claros, Brasilândia de Minas, João Pinheiro e Carmo do Paranaíba, onde já há atividade em curso.
A expectativa da população e das autoridades do estado é grande, sobretudo depois que a Orteng confirmou sua descoberta de gás no bloco SF-T-132, apontando para volumes que podem chegar a quase 200 bilhões de m3. E, para alimentar ainda mais o clima de euforia, a Petra confirmou a existência de indícios de gás no poço ainda em perfuração.
De fato, o cenário dessas pequenas cidades do interior tem mudado. Onde antes se via apenas grandes e pequenas fazendas, hoje é possível avistar sondas de perfuração e caminhões vibradores de sísmica. E em qualquer vilarejo que se percorra, as conversas giram sempre em torno do resultado dos trabalhos exploratórios. Não há boa prosa mineira que não termine com indagações sobre se há ou não gás no São Francisco.
Dona Celuta Batista, uma assentada do Incra na região de João Pinheiro, onde a Petrobras perfura um poço, e dona de um pequeno bar à beira de uma estrada de terra, acredita que a atividade pode ajudar a região. Faturando entre R$ 15 e R$ 30 por dia, além de obter uma receita extra com a venda de produtos plantados em seu terreno, a comerciante viu o movimento do bar crescer com a abertura do sítio de perfuração da Petrobras. “Com Deus ajudando, vai dar petróleo aqui, sim, e quem sabe isso pode dar uma boa renda para a gente que mora aqui, como deu quando chegaram as empresas contratadas pela Petrobras”, espera Celuta.
Há, porém, uma preocupação: as perfurações poderem gerar al-gum problema no terreno. “Tenho medo de esse furo enorme que estão fazendo dar problema e gerar algo ruim, um terremoto, sei lá o que”, confessa Celuta, mantendo sua simplicidade e calma.
Além da geologia
Explorar o São Francisco não é uma tarefa fácil, embora a área seja vista ultimamente como uma das mais promissoras regiões terrestres de fronteira do Brasil, com vocação para o gás natural. Com extensão total de 350 mil km2 – uma área maior que os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo juntos, ou equivalente a uma Alemanha –, a bacia avança por Minas Gerais, Bahia e Goiás. Só em Minas, onde estão os 39 blocos sob concessão, a área é de 207 mil km2.
Formada por rochas depositadas entre 600 milhões e 1 bilhão de anos, a bacia possui rochas resistentes, que por vezes difi cultam a perfuração e exigem um grande número de brocas. Outro fator que demanda atenção é a baixa permeabilidade e porosidade dos reservatórios, o que exigirá tecnologias de fraturamento na etapa de desenvolvimento da produção.
A exploração no São Francisco ainda esbarra em grandes distâncias e falta de infraestrutura para atender às demandas da indústria. Explorar a parte mineira da bacia significa para petroleiras e empresas de sísmica percorrer grandes distâncias por estradas de asfalto e de terra, algumas delas particulares ou com inclinação e passagem apenas para carros com tração nas quatro rodas.
Em quatro dias, a equipe da Brasil Energia rodou com os técnicos da Petra e da Petrobras mais de 1,5 mil km para percorrer três locações. Em muitas situações roda-se por horas sem avistar uma só pessoa, casa, birosca de beira de estrada ou posto de gasolina. O que se vê são cercas, porteiras de fazendas e poeira, muita poeira, sobretudo nesta época de seca.
Segundo Renato Darros, diretor de E&P da Imetame, os desafios do São Francisco vão muito além da geologia e da geografia da região. “Para fazer com que um projeto seja viável, ainda temos de administrar questões como marco regulatório do gás e preço do produto.
Há um pacote de coisas por resolver. Mas a vantagem é que estamos no coração do Brasil”, anima-se ele.
Fonte: Cláudia Siqueira - Portal Energia Hoje
[02.08.2011] 03h43m
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