Entretanto, apesar de já há vários anos ser nítido o efeito da exploração de fontes não convencionais americanas, ainda não foi possível, a não ser no Canadá, replicar com sucesso a experiência em outros paises. Recente artigo que publicamos em nosso site ("Shale Game", The Economist, 30/08/14), mostra a decepção com os resultados obtidos na China, o país que detém as maiores reservas mundiais de gás não convencional. A despeito dos esforços das grandes petroleiras chinesas, e da extrema necessidade de reduzir a poluição ambiental causada pela geração elétrica a carvão, prevê-se agora que em 2020 o shale gas responderá somente por 1% do consumo chinês de energia. Fatores geológicos e geográficos são os principais inibidores do progresso das fontes não convencionais da China.
Razões como profundidade, permeabilidade e dureza das rochas, distância dos centros de consumo, deficiência de água, rede de gasodutos reduzida, oposição de grupos locais ou dos governos, regulamentação pouco atrativa, carência de meios ou de mão de obra, financiamento inadequado e até possibilidade de abalos subterrâneos são alegadas nas várias partes do mundo onde empreendedores ousados ou entidades estatais tentaram, sem resultados positivos, reproduzir o modelo americano. Parece que, apesar de já estarmos na metade da segunda década do que foi chamado de "o século do gás natural", as benesses do produto só surgem no continente norte-americano.
Diante dessas dificuldades, é razoável refletir sobre as decisões tomadas no Brasil com relação ao desenvolvimento das reservas não convencionais de gás, e compará-las com o que fazem outros países, especialmente sul americanos. Nosso principal passo neste sentido foi o leilão de 240 blocos de áreas terrestres com potencial para gás, convencional ou não, realizado em novembro/13, e que resultou na negociação de 72 deles com diferentes empresas, privadas ou estatais. Entre elas, entretanto, não estavam os grupos com experiência comprovada na especialidade, principalmente as muitas empresas americanas ou internacionais que perfuram mais de 20 mil poços produtores por ano nos EUA. Os concessionários dos blocos leiloados no Brasil, ainda tímidos pela complexidade das técnicas de perfuração horizontal e "fracking', provavelmente passarão por extensa fase de aprendizado até superarem a perplexidade inicial, acrescida do pouco conhecimento geológico da maior parte das áreas licitadas e dos temores das populações vizinhas.
Em contraste, paises do Cone Sul parecem ter seguido caminho diferente. Muito se tem comentado sobre a formação argentina de Vaca Muerta, no Departamento de Neuquén, já em início de operação. Com reservas capazes de suprir as necessidades de gás natural do país por vários anos, a estatal YPF mantém contratos de exploração com diversas empresas estrangeiras detentoras de conhecimento da atividade, que trabalham em cooperação com firmas argentinas. Em que pesem as grandes dificuldades técnicas e logísticas do empreendimento, agravadas pela delicada situação cambial do país, já há uma produção incipiente e expectativas positivas a médio prazo.
No Chile, a trajetória a ser seguida é semelhante.Temos noticiado frequentemente a política chilena de aproximação com os EUA, que culminou com a assinatura recente de um Tratado de Livre Comércio entre os dois países. A partir deste estreito relacionamento, o Chile poderá beneficiar-se da importação de GNL proveniente de shale gas americano, a preços competitivos, e em breve os terminais de regaseificação chilenos receberão navios vindos de Sabine Pass, Luisiânia, onde um antigo terminal de importação de GNL foi redirecionado para liquefação e exportação. Além disto, a estatal ENAP, signatária dos contratos de importação, está trazendo empresas americanas comprovadamente experientes em shale gas, para atuação na formação Magallanes, no sul do país, onde os primeiros passos para a exploração desta enorme reserva estão em andamento.
Conhecendo os muitos esforços mundiais despendidos na difícil tarefa de explorar gás não convencional, e a limitação dos recursos técnicos e empresariais que podem ser mobilizados no Brasil para esta atividade, parece-nos - pelo menos no momento atual - que a escolha brasileira da forma de exploração e produção não é a que mais rapidamente apresentará resultados. E eles são urgentes - de alguma forma, temos que deter a migração de nossas indústrias para o norte, restabelecendo sua capacidade de competir suprindo-as com insumos baratos e abundantes, como o shale gas americano.
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