[21.06.2013] 15h59m / Por Julio Santos
A inauguração, em junho, da central Gás Verde S/A, que vai captar 190 mil m3 diários de biogás do lixo acumulado no aterro de Gramacho, em Duque de Caxias (RJ), para suprir a Refinaria Duque de Caxias (Reduc) com um combustível mais puro que o gás natural fornecido pela própria Petrobras, poderia ser apenas um projeto de sustentabilidade, em um momento em que boa parte da sociedade vê com bons olhos iniciativas de cunho ambiental. Entretanto, mais do que isso, a usina carioca é a mais recente entre as várias ações de peso que vêm acontecendo em diversos estados, como o próprio Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina, demonstrando que, em tempos de escassez de gás natural, o biogás pode, sim, ocupar lugar de destaque no mercado energético brasileiro.
No Rio, o governo estadual obrigou as distribuidoras CEG e CEG Rio a comprar todo o combustível produzido em aterros do estado, até um limite de 5% do volume comercializado por essas empresas. Em São Paulo, a iniciativa governamental, chamada Programa Paulista de Biogás, visa obter o energético da vinhaça, um resíduo oriundo da produção de etanol. E em Santa Catarina – um dos estados brasileiros que mais sofre com a escassez de gás natural, tendo, inclusive, demanda reprimida –, a aposta se dá no biogás oriundo de aterros sanitários, mas sobretudo do setor agropecuário, especificamente, da suinocultura.
O potencial do biogás no Brasil, de fato, surpreende. Em sua dissertação de mestrado “Potencial de Aproveitamento Energético do Biogás no Brasil”, feita para a Coppe/UFRJ entre o fim de 2009 e início de 2010, André Luiz Zanette apontava um potencial de produção de nada menos de 50 milhões de m3 diários do biocombustível – e isso há cerca de três anos. Número não tão distante da atual produção nacional de gás natural, na faixa de 70 milhões de m3/dia.
“Tecnicamente é possível aproveitar todo esse potencial, pois o biogás tem uma série de aplicações, como a elétrica e a térmica, podendo ser adaptado para muitos processos industriais”, observa Suani Teixeira, do Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio), da USP.
Iniciativas de governo
Apesar de versátil no uso, o biogás tem pela frente uma longa estrada. Assim como ocorre com todas as fontes de energia entrantes no mercado, sua geração em escala esbarra em fatores como o custo Brasil e o cenário econômico, que breca investimentos de retorno mais demorado. As poucas usinas movidas por esse combustível enfrentam o olhar ainda desconfiado do investidor. Questões tecnológicas, falta de políticas de incentivo adequadas, regulamentação e a conexão da energia gerada na rede figuram entre os pontos que precisam evoluir para a fonte deslanchar.
Algumas iniciativas governamentais, porém, como a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), políticas estaduais de estímulo à adição de um percentual de biogás no gás canalizado e o programa estratégico de pesquisa e desenvolvimento (P&D) da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) abrem caminho para o país explorar melhor o potencial da recuperação energética de resíduos sólidos, estações de tratamento de esgoto e dejetos de animais. E também criam espaço para que o energético se torne uma alternativa ao gás fóssil.
Um bom exemplo nesse sentido foi a medida tomada desde o ano passado pelo governo estadual do Rio, que obrigou as distribuidoras CEG e CEG Rio a comprar combustível produzido em aterros sanitários do estado. O governo fluminense estima que, como resultado, haja espaço para cinco projetos, com capacidade para 500 mil m3/dia – um deles é justamente a central Gás Verde S/A.
A capacidade da usina de Gramacho é de 70 milhões de m3/ano, ou pouco mais de 190 mil m3/dia – equivalente à metade das vendas de gás natural no Rio Grande do Norte, segundo dados da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), e a 10% consumo da Reduc. O projeto, iniciado em 2009, demandou investimentos de R$ 240 milhões, e o valor do contrato de 20 anos com a Petrobras está orçado em R$ 800 milhões.
Seguindo o exemplo do Rio, o governo paulista publicou um decreto em dezembro passado que vai tornar obrigatória a adição de um percentual mínimo de biogás na distribuição canalizada no estado. A legislação, batizada de Programa Paulista de Biogás, prevê também outros incentivos para aproveitar o grande potencial de produção do biocombustível, sobretudo a partir da vinhaça, resíduo da indústria de cana-de-açúcar. Afinal, estima-se que o estado possa gerar até 5 milhões de m³/dia de biogás de vinhaça – para cada litro de etanol são jogados no ambiente de dez a 12 litros daquele resíduo.
São Paulo, aliás, foi o primeiro estado do país a aproveitar biogás de lixo para gerar energia. Os aterros Bandeirantes e São João, na região metropolitana da capital, têm hoje capacidade instalada de 20 MW e 21,5 MW, respectivamente.
No entanto, o estado que mais corre para aproveitar o biogás é Santa Catarina. A SCGás tenta agilizar a produção do energético como alternativa ao gás natural, diante da falta desse combustível. A distribuidora, que hoje trabalha com uma oferta máxima de 2 milhões de m3/dia, já está recusando contratos por falta do energético.
Por isso a concessionária pretende inserir, até o fim de 2015, o biometano gerado por um aterro sanitário da Grande Florianópolis. A expectativa da empresa é que o projeto, de R$ 8 milhões, tenha capacidade para gerar entre 40 mil e 50 mil m3/dia de biometano.
Segundo estudos da companhia, o estado tem potencial para gerar até 3 milhões de m3/dia. A Concessionária está discutindo ativamente com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) a regulamentação da operação com biogás e a adequação química do energético.
O interesse da SCGás não é sem motivo. Em termos de abastecimento de gás fóssil, a situação da região Sul é a mais crítica do país. De acordo com estudo do Grupo de Economia da Energia, do Instituto de Economia da UFRJ, a demanda de gás para a região é de 10 milhões de m3/dia a mais do que é ofertado atualmente.
Em 2030, a demanda diária estimada para o Sul saltará para 34 milhões de m3/dia, o que gera a necessidade urgente de viabilizar outra fonte além do gás importado da Bolívia – a única fonte de suprimento da região.
A principal beneficiada pelo biogás poder ser a indústria. Hoje o segmento precisa disputar com as térmicas o insumo e vem sendo deixado de lado nos planos de expansão do governo e da Petrobras.
Algumas iniciativas governamentais, porém, como a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), políticas estaduais de estímulo à adição de um percentual de biogás no gás canalizado e o programa estratégico de pesquisa e desenvolvimento (P&D) da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) abrem caminho para o país explorar melhor o potencial da recuperação energética de resíduos sólidos, estações de tratamento de esgoto e dejetos de animais. E também criam espaço para que o energético se torne uma alternativa ao gás fóssil.
Um bom exemplo nesse sentido foi a medida tomada desde o ano passado pelo governo estadual do Rio, que obrigou as distribuidoras CEG e CEG Rio a comprar combustível produzido em aterros sanitários do estado. O governo fluminense estima que, como resultado, haja espaço para cinco projetos, com capacidade para 500 mil m3/dia – um deles é justamente a central Gás Verde S/A.
A capacidade da usina de Gramacho é de 70 milhões de m3/ano, ou pouco mais de 190 mil m3/dia – equivalente à metade das vendas de gás natural no Rio Grande do Norte, segundo dados da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), e a 10% consumo da Reduc. O projeto, iniciado em 2009, demandou investimentos de R$ 240 milhões, e o valor do contrato de 20 anos com a Petrobras está orçado em R$ 800 milhões.
Seguindo o exemplo do Rio, o governo paulista publicou um decreto em dezembro passado que vai tornar obrigatória a adição de um percentual mínimo de biogás na distribuição canalizada no estado. A legislação, batizada de Programa Paulista de Biogás, prevê também outros incentivos para aproveitar o grande potencial de produção do biocombustível, sobretudo a partir da vinhaça, resíduo da indústria de cana-de-açúcar. Afinal, estima-se que o estado possa gerar até 5 milhões de m³/dia de biogás de vinhaça – para cada litro de etanol são jogados no ambiente de dez a 12 litros daquele resíduo.
São Paulo, aliás, foi o primeiro estado do país a aproveitar biogás de lixo para gerar energia. Os aterros Bandeirantes e São João, na região metropolitana da capital, têm hoje capacidade instalada de 20 MW e 21,5 MW, respectivamente.
No entanto, o estado que mais corre para aproveitar o biogás é Santa Catarina. A SCGás tenta agilizar a produção do energético como alternativa ao gás natural, diante da falta desse combustível. A distribuidora, que hoje trabalha com uma oferta máxima de 2 milhões de m3/dia, já está recusando contratos por falta do energético.
Por isso a concessionária pretende inserir, até o fim de 2015, o biometano gerado por um aterro sanitário da Grande Florianópolis. A expectativa da empresa é que o projeto, de R$ 8 milhões, tenha capacidade para gerar entre 40 mil e 50 mil m3/dia de biometano.
Segundo estudos da companhia, o estado tem potencial para gerar até 3 milhões de m3/dia. A Concessionária está discutindo ativamente com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) a regulamentação da operação com biogás e a adequação química do energético.
O interesse da SCGás não é sem motivo. Em termos de abastecimento de gás fóssil, a situação da região Sul é a mais crítica do país. De acordo com estudo do Grupo de Economia da Energia, do Instituto de Economia da UFRJ, a demanda de gás para a região é de 10 milhões de m3/dia a mais do que é ofertado atualmente.
Em 2030, a demanda diária estimada para o Sul saltará para 34 milhões de m3/dia, o que gera a necessidade urgente de viabilizar outra fonte além do gás importado da Bolívia – a única fonte de suprimento da região.
A principal beneficiada pelo biogás poder ser a indústria. Hoje o segmento precisa disputar com as térmicas o insumo e vem sendo deixado de lado nos planos de expansão do governo e da Petrobras.
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