WELLINGTON BAHNEMANN / RIO - O Estado de S.Paulo
A exploração das reservas de gás natural não convencional no Brasil não produzirá o mesmo efeito nos preços do insumo verificado nos Estados Unidos no curto prazo. A incipiente malha de transportes e o baixo conhecimento geológico do território brasileiro são apontados como os principais fatores que impedem o Brasil de reproduzir o bem-sucedido modelo dos EUA, especialmente no shale gas (gás de xisto), que revolucionou a indústria de energia.
O advento do shale gas teve efeito devastador nos preços do gás nos EUA. O preço spot (à vista) do gás nos EUA caiu de US$ 8,86 por milhão de BTU (medida de referência para o gás), na média de 2008, para US$ 2,7 por milhão de BTU no ano passado. De olho nesse fenômeno, diversos países elaboraram novas políticas energéticas para desenvolver suas reservas de gás não convencional, entre eles o Brasil. É nesse contexto que se insere a 12.ª Rodada de Licitações da ANP, prevista para novembro, o primeiro leilão voltado para gás natural.
"O mundo todo tenta replicar o sucesso dos EUA. Os dados sobre a redução da importação de gás natural liquefeito (GNL), de aumento da produção e o impacto nos próprios preços têm sido extraordinários", afirmou o diretor da ANP, Helder Queiroz.
Estudo produzido em 2011 pelo Energy Information Administration (EIA), do Departamento de Energia dos EUA, mostrou que as reservas brasileiras de shale gas, um dos tipos de gás não convencional, eram de 6,4 trilhões de metros cúbicos, volume quase 14 vezes superior às reservas provadas totais do País. Diante desses números, vários agentes do setor, principalmente os consumidores, esperavam se beneficiar de preços mais baixos também no Brasil.
Contudo, a visão de especialistas é de que dificilmente o País conseguirá capturar esse benefício no curto prazo. "Estamos longe de ter o efeito preço que existe nos EUA. Não temos a infraestrutura para fazer com que esse gás fique acessível para São Paulo e Rio, por exemplo", disse o presidente da GDF Suez Brasil, Maurício Bähr.
Segundo o executivo, a densa malha de gasodutos nos EUA foi um dos principais fatores que permitiu a forte queda no preço. Hoje, é consenso entre especialistas que a malha de gasodutos brasileira, de 9,24 mil quilômetros de extensão e concentrada no litoral, é insuficiente para o tamanho das ambições da indústria de gás no País.
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