Estudo mostra que, em 10 anos, produção em Minas pode ser de 37 milhões de metros cúbicos e superar consumo do país hoje, com receita de R$ 4 bi
Com a promessa de levar desenvolvimento econômico e social às regiões pobres do Norte e do Noroeste de Minas Gerais e ao Alto Paranaíba, o gás natural encontrado na porção mineira da Bacia do Rio São Francisco tem potencial para dar vazão, dentro de 10 anos, a um consumo superior a todo o gás que o Brasil importa hoje da Bolívia. O volume projetado chega a 37 milhões de metros cúbicos por dia, 7 milhões acima da conta de importação do insumo boliviano, conforme estudo encomendado pelo governo do estado à empresa de consultoria e negócios Gas Energy, sediada em Porto Alegre. A estimativa foi feita a partir das informações das empresas envolvidas nos trabalhos de prospecção e de cálculos sobre o crescimento do uso do gás natural na indústria e no comércio, indicando uma receita ao redor de R$ 4 bilhões por ano de toda essa quantidade esperada das reservas mineiras.
Se confirmados os números, Minas passará da condição de importador do gás fornecido pela Petrobras e distribuído no estado pela Companhia de Gás do estado (Gasmig), subsidiária da Cemig, para fornecedor do insumo. Isso, significa, ainda, a possibilidade de diversificação da indústria para segmentos mais nobres em que o gás natural pode ser decisivo, a exemplo de produtos químicos, cerâmica, vidros e alimentos. O estudo consiste num plano diretor para a exploração de gás natural que o governo contratou como a primeira iniciativa para preparar o estado para receber e transformar o gás em riqueza, segundo a secretária de Desenvolvimento Econômico, Dorothea Werneck.
“Ainda há muito trabalho para mapearmos as reservas de gás e a qualidade do insumo encontrado na Bacia do São Francisco. Se as empresas (que estão conduzindo as pesquisas e prospecções) confirmarem as atuais expectativas, estaremos preparados para enfrentar as necessidades de infraestrutura para produção e distribuição e desenvolver o consumo”, afirmou a secretária, ao apresentar ontem o levantamento. Os royalties pela exploração do combustível limpo e rico alcançariam R$ 480 milhões anuais, injetados no Tesouro estadual e nos cofres dos municípios beneficiados pela produção em terra e aqueles localizados na área de influência dos investimentos na extração. A título de comparação, os royalties da atividade de mineração em Minas somaram R$ 788,8 milhões em 2011. O dinheiro é partilhado entre o estado, os municípios mineradores e a União.
Viabilidade A Gas Energy estudou a demanda de gás em Minas e as possibilidades de crescimento do consumo à luz da experiência de outros mercados, mas as estimativas só valem num cenário em que se confirmarem as perspectivas de exploração viável economicamente do gás e de sua qualidade. Outro pressuposto é que o insumo seja vendido a preços competitivos. Foi usado o padrão de cotações da indústria de gás natural não convencional dos Estados Unidos, de US$ 5 por milhão de BTU (R$ 0,33 por metro cúbico de gás) na boca do poço, ou seja, sem contar os gastos com transporte, em razão de os depósitos já encontrados em Minas se constituírem do mesmo tipo de gás.
Os trabalhos do consórcio Cebasf, do qual o estado detém 49% das ações por meio da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig), resultaram no primeiro poço perfurado em Minas que identificou o insumo em depósitos não convencionais. Neles, o gás ocorre em longas extensões de rochas, de baixa porosidade e depende de que sua liberação dos depósitos seja induzida. O presidente do conselho da Gas Energy, Marco Tavares, observou que a necessidade inicial de investimentos na produção de gás não convencional é menor, mas a cada cinco anos novos aportes têm de ser feitos para garantir a produtividade dos poços. Como as jazidas estão distribuídas ao longo de uma área extensa, demandam um contínuo processo de perfuração.
“Se o gás for competitivo, teremos uma indução grande do consumo e a atração de grandes projetos do setor privado”, disse Marco Tavares. O potencial de consumo do gás da parte mineira da Bacia do Velho Chico equivale a mais de 12 meses de vendas da Gasmig no ano passado, de 3 milhões de metros cúbicos de gás. O preço do insumo pago pela companhia à Petrobras é de US$ 10 por milhão de BTU, ou seja o dobro do valor estimado pela Gas Energy na perspectiva de o estado se transformador em produtor do insumo.
Petrobras pesquisa
A Petrobras conclui no fim deste mês o levantamento de dados no poço Pedras, que a estatal começou a perfurar em novembro do ano passado no município de Brasilândia de Minas, no Noroeste do estado. A companhia informou estar, também, negociando junto a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) um plano de avaliação de descoberta de outro poço no município, batizado de Oséas, onde poderá iniciar nova fase de estudos. As empresas Shell Brasil, que tem a mineradora Vale como parceira, o consórcio Cebasf e a Petra Energia intensificaram os estudos à procura de gás no São Francisco.
A secretária de Estado de Desenvolvimento Econômico, Dorothea Werrncek, disse, ontem, que até o fim do ano que vem os grupos que se dedicam aos trabalhos de prospecção terão informações mais claras sobre os volumes e a qualidade do gás. Os investimentos na produção do insumo também poderão começar nesse período, mas para um cenário de aproveitamento da riqueza nova para os mineiros, será preciso perfurar cerca de 200 poços por ano. A porção mineira da Bacia do São Francisco está mapeada em 39 blocos em que 12 empresas estão trabalhando.
Fonte: http://impresso.em.com.br/app/noticia/cadernos/economia/2012/04/05/interna_economia,31042/gas-para-desenvolver.shtml
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