A inclusão da Repsol YPF Gás no decreto de nacionalização da YPF afeta várias empresas de capital aberto com operações na Argentina e que eram sócias dos espanhóis.O movimento respinga na britânica BG, em negócios da americana Dow Chemical e também da brasileira Petrobras nas áreas de distribuição de gás, petroquímica e refino. Para a BG, é um péssimo momento. Ela tenta se capitalizar para investir no pré sal vendendo a Comgás para a Cosan em um negócio avaliado em aproximadamente US$ 2 bilhões , e agora ganhou o governo argentino como sócio na problemática Metro Gas, maior distribuidora da América Latina e que hoje é controlada pela BG através de 55% da GASA, uma joint venture.
A Metro Gas é uma empresa que fatura dez vezes menos para o Grupo BG do que a Comgás, mesmo comercializando cerca de 70% a mais de gás. A distribuidora de São Paulo teve em 2011 uma receita bruta de R$ 5,1 bilhões ou cerca de 11 bilhões de pesos argentinos. Comercializou 4,9 bilhões de metros cúbicos de gás. A Metro Gas conseguiu 1,1 bilhão de pesos argentinos no mesmo período vendendo cerca de 7,7 bilhões de metros cúbicos de gás. A Metro Gas está sob regime de intervenção desde 2010 por causa de um default que hoje soma US$ 307 milhões. O governo já era acionista minoritário e agora ampliou sua participação ao ficar com a fatia da YPF, que tinha 45% da GASA. A expectativa no mercado é que o governo promova uma capitalização na empresa, o que pode diluir a participação da BG , caso ela não acompanhe o movimento. Com a expropriação da YPF, a própria Petrobras tornou-se sócia do governo em duas companhias onde tem participação societária, sem deter o controle: Refinería del Norte (Refinor), da qual tem 28,5% e Companhia Mega, em Bahía Blanca, da qual tem 34% junto com YPF (38%) e Dow Chemical (28%).
O conjunto de ativos da Petrobras na Argentina também inclui duas petroquímicas, a hidrelétrica Pichi Picun Leufu que em 2010 foi responsável por 0,76% da geração total do país a térmica Genelba.
movida a gás, e uma participação na Transportadora Gás del Sur (TGS), entre outras heranças da Perez Com pane. Contudo, quem encabeça a lista de preocupações da Petrobras na Argentina são as problemáticas TGS, Mega e Edesur. Nas duas últimas, a Petrobras tem dado sua "contribuição social", como pode ser resumido um conjunto de subsídios e preços tabelados que ajuda a explicar o lucro da brasileira na Argentina, equivalente a US$ 170,5 milhões em 2011, um pouco melhor que os US$ 156 milhões de 2010, mas nem perto do lucro de US$ 460,6 milhões em 2006.
Nenhuma dessas empresas foi mencionada na reunião da presidente da Petrobras, Graça Foster, e do diretor internacional da estatal, Jorge Zelada, com o ministro do Planejamento argentino, Julio De Vido, que trouxe também o secretário de Energia, Daniel Cameron.
No atual plano estratégico da Petrobras, em revisão , estão previstos investimentos de US$ 1,8 bilhão na Argentina no período 2011-2015. No ano passado, a empresa investiu no país US$ 460 milhões e outros US$ 500 milhões já estavam programados para este ano, mas uma parte seria destinada à perfuração de novos poços no bloco Veta Escondida, cuja concessão foi cancelada pelo governo da província de Neuquén, o que De Vido promete reverter.
Em 2014 e 2015 estão previstos mais US$ 250 milhões por ano. Na reunião em Brasília, Graça demonstrou boa vontade sem assumir compromissos explícitos, avaliou uma fonte a par do assunto. E deixou claro que a Petrobras não vai investir mais sem estabilidade regulatória. Apesar de ter desmontado parte de sua estrutura na Argentina, a brasileira ainda tem negócios problemáticos naquele país. Uma das maiores dores de cabeça é a Edesur, uma distribuidora de energia elétrica que ela está tentando vender faz tempo. A Petrobras Energia tem uma participação de 27,33% na Edesur através da Distrilec Inversora, da qual a estatal tem 48,5% em associação com a espanhola Endesa, hoje controlada pela Enel, da Itália.
Nos últimos seis anos, a Edesur só deu lucro três vezes. Fechou 2011 com um prejuízo de US$ 111,68 milhões , número nove vezes superior ao prejuízo registrado em 2010. E o resultado de 2012 não deve trazer alegrias. A razão para os problemas da Edesur, assim como para todas as empresas concessionárias, começa em 2002. Quando houve o fim da conversibilidade, foi feita uma pesificação das receitas e despesas até então dolarizadas, dentro da lei de emergência econômica baixada pelo presidente Eduardo Duhalde em 7 de janeiro de 2002.
Por essa lei, os custos das empresas foram pesificados ao nível de mercado e a receita, convertida em peso pela cotação oficial, ou seja, de 1,4 para cada dólar. Isso fez com que todo o setor desequilibrasse. Ao assumir o cargo, em 2003, Nestor Kirchner começou a renegociar uma recomposição tarifária. Pelas regras propostas à época, seria criada uma tarifa de transição , desde que as empresas constituíssem um fundo, onde a diferença seria depositada, para investimentos em infraestrutura. Algumas empresas chegaram a constituir este fundo, mas o aumento tarifário não entrou em vigor. As empresas estão com tarifas congeladas há dez anos, em um país onde a inflação real está em torno de 20%. A sobrevivência das concessionárias só se tornou possível porque o governo ampliou o pagamento de subsídios ao consumo. O pagamento de subsídios na Argentina já chega a 4% do PIB. A remuneração das empresas está abaixo do mercado. No caso do gás natural , por exemplo, é de cerca de US$ 2,7 o milhão de BTU. Ainda que os preços internacionais estejam baixando, por conta da entrada de gás não convencional no mercado americano, mesmo assim é um número abaixo dos contratos praticados nos países vizinhos.
De acordo com levantamento do consultor Daniel Montamat, no primeiro trimestre de 2012 os preços dos produtos de energia na Argentina eram em média 58% inferiores a uma comparação com padrões internacionais.
No caso dos derivados de óleo, a defasagem é de 33%. No caso dos de energia elétrica, de 68%. O caso mais grave é o do gás natural, onde a defasagem chegava a 78%. O levantamento compara os preços da Argentina com os do Chile, Uruguai, Peru, Colômbia e Brasil. É essa circunstância que explica o estado de quebra a que chegou a Metro Gas. Cartaz em frente ao Congresso argentino, em Buenos Aires, diz que a YPF e a presidente Cristina Kirchner (CFK) "são nossas, são argentinas"
fonte: Valor Econômico - por Cláudia Schffüner
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