O Brasil vive um cenário de desindustrialização precoce - na medida em
que a indústria perde peso no conjunto da economia - mas o câmbio não é o
"único culpado" como vem sendo apontado por governo e empresários,
segundo os economistas ouvidos pela BBC Brasil.
Operários trabalham numa fábrica na Zona Franca de Manaus, que já apresenta desaquecimento. |
Para esses especialistas, há um consenso de que o real valorizado afeta
a competitividade da indústria brasileira, uma vez que incentiva as importações
ao mesmo tempo que atravanca as exportações, embora esteja longe de ser a raiz
do problema, como argumentam dirigentes industriais.
A taxa de investimentos privada, incluída aí a compra de maquinários,
também é considerada baixa.
"Tudo isso acaba encarecendo o produto final, que não consegue
competir com um similar que vem de fora", disse Ruy Quintans, professor de
economia do Ibmec-RJ.
No último ranking do relatório Doing Business do Banco Mundial, que
mede a facilidade de se fazer negócios em cada país, o Brasil aparece na 126ª
posição entre as 183 nações avaliadas.
Causas e sintomas
No ano passado, a participação no PIB da indústria de transformação
(representada pela cadeia industrial que transforma matérias-primas em bens de
consumo ou em itens usados por outras indústrias ) foi de apenas 14,6%, segundo
o IBGE. O patamar é o mais baixo desde 1956, quando esse segmento respondeu por
13,8% da soma de bens e serviços produzidos pelo país.
Para o economista Rodrigo Constantino, fundador do Instituto Millenium,
ao anunciar medidas pontuais (como o aumento do IOF - imposto sobre operações
financeiras), "o governo tem atacado mais os sintomas do que as causas dos
males que afetam nossa indústria".
Daí a necessidade de políticas que atinjam todos os setores da
economia, como a tão pedida reforma fiscal, bem como novas regras previdenciárias
que custem menos ao setor produtivo, segundo os economistas.
O cenário de desindustrialização tem impactado, de maneira mais forte,
alguns setores específicos - caso da indústria têxtil, que teve retração de
9,2% em 2011, frente à entrada cada vez maior de tecidos chineses no país.
De janeiro a dezembro de 2011, a indústria de transformação também
cresceu aquém do esperado (+0,1%), o que elevou os temores de que o setor
continue perdendo espaço para concorrentes estrangeiros, levando a demissões e
ao fechamento de fábricas a curto e médio prazo.
Segundo entidades que representam o setor, no ano passado, a expansão
da demanda por manufaturas foi inteiramente suprida por produtos importados.
Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a atividade industrial
seguirá desaquecida. Dados da última pesquisa "Sondagem Industrial"
apontaram que tanto a produção quanto o nível de emprego da indústria em
fevereiro ainda se encontram abaixo do patamar recomendável, levando a
atividade industrial a registrar retração pelo sexto mês consecutivo.
Formação dos trabalhadores
Se a indústria dá sinais de fôlego curto, o setor de serviços, por
outro lado, tem crescido e ocupado cada vez mais espaço no conjunto da economia
brasileira. Segundo o IBGE, o setor de serviços representa 67% do PIB em 2011,
alta de 2,7% em relação ao ano anterior.
Mas o que poderia ser um sinal de desenvolvimento, pode significar um
problema adicional, dada a baixa especialização dos trabalhadores brasileiros.
A baixa produtividade (fruto da educação deficiente) também funciona como um
freio no desenvolvimento da economia brasileira.
Em países que passaram por processo semelhante, como os Estados Unidos,
industrias inteiras foram transferidas para países de produção mais barata -
como a China. O vácuo, no entanto, foi preenchido por setores industriais mais
desenvolvidos, que apostam na inovação e agregam mais valor aos produtos,
aumentando a renda do trabalhador.
"Nessas nações, a indústria perdeu espaço porque, de tão
desenvolvida, dinamizou outros setores da economia, que ganharam força,
aumentando a renda média da população", concluiu Roberto Messenberg,
coordenador do Grupo de Análises e Previsões (GAP) do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea).
Para os especialistas, a desindustrialização no Brasil ocorre sem a
mesma contrapartida de elevação de renda per capita observada nos países ricos,
como Estados Unidos e Japão. E o problema, mais uma vez, esbarra no déficit de
formação do trabalhador.
fonte: Da BBC Brasil, em São Paulo Luís Guilherme Barrucho
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