Mailson da Nóbrega* comenta abaixo um artigo da revista 'The Economist'sobre a possibilidade de o preço do petróleo causar um estrago na economia mundial
A revista The Economist desta semana traz interessante artigo sobre o aumento de preços do petróleo. O título 'The new grease', é um trocadilho. A palavra 'grease' (graxa, lubrificante), em inglês, tem praticamente a mesma pronúncia de 'Greece' (Grécia). O tema é o recente aumento dos preços do petróleo, que para alguns pode ter um impacto na economia, em termos de crescimento e inflação, semelhante ao que a crise da dívida soberana grega.
Os preços do petróleo estão altos, assinala a revista, mas para saber os eventuais perigos derivados desse movimento é preciso, diz, ter resposta para quatro questões: 1) qual a razão do aumento dos preços do petróleo?; 2) que altura eles podem atingir?; 3) qual o provável impacto econômico desse aumento de preços; 4) qual o estrago que causariam futuros aumentos de preço?
A resposta é negativa para a primeira pergunta. Uma frequente explicação para os aumentos recentes de preços seria a expansão de liquidez provocada pelos bancos centrais dos países ricos. Segundo se diz, a inundação de dinheiro barato induziria os investidores a buscar outros ativos, particularmente o petróleo. Acontece que o presidente do Fed, Ben Bernanke, desapontou os mercados na semana passada ao não sinalizar um novo ciclo de expansão monetária. 'Além disso, se preços em alta estão sendo impulsionados por especuladores, deveria acontecer um aumento nos estoques de petróleo. Aconteceu exatamente o contrário. Os bancos centrais podem ter influenciado indiretamente os preços do petróleo ao elevar as expectativas sobre o crescimento global. Há evidências circunstanciais para a tese, pois ao aumentos dos preços do petróleo coincidiram com um maior otimismo sobre a economia mundial, Ocorre que problemas de oferta não são uma causa mais importante. O oferta é mais relevante. Ao todo, o mercado pode ter perdido mais de um milhão de barros de petróleo por dia nos últimos tempos, por disputas sobre um oleoduto no Sudão; por problemas mecânicos no Mar do Norte e pelo embargo europeu ao petróleo iraniano.
Quanto ao máximo que o preço do petróleo pode atingir, a revista informa que os estoques nos países ricos alcançaram seu ponto mais baixo em cinco anos. Um especialista da Goldman Sachs sugere que os fundamentos de oferta e demanda empurram os preços do petróleo para US$ 118,00. O restante, seria explicado pelo medo do que possa acontecer com o Irã e sua ameaça de fechar o estreito de Ormuz, por onde circulam diariamente 17 milhões de barris . Assim, se as relações com o Irã melhorarem, as cotações do petróleo cairiam um pouco, mas ficariam próximas de US$ 120,00.'Globalmente, o custo pelos aumentos dos preços do petróleo devem ser pequenos', assinala a The Economist.
Sobre os impactos econômicos dos preços do petróleo, a revista entende que por ora eles podem ser compensados por melhorias em outros lugares. As perspectivadas para a economia mundial são melhores do que as prevalecentes no princípio deste ano. O impacto vai ser diferente em distintos países. Nos Estados Unidos, um aumento de US4 10,00 nos preços do petróleo reduz o crescimento em 0,2% no primeiro ano e 0,5% no segundo. O aumento dos preços em 2011 foi menor do que o de 2011 e 2008. O aumento do emprego aumenta a renda dos consumidores, que consomem mais petróleo. Acontece que a demanda da economia americano por petróleo está ficando menor e menos dependente das importações de petróleo. Os americanos estão dirigindo menos e comprando carros mais eficientes no uso de combustíveis. Nos Estados Unidos, os preços caíram com as grandes descobertas de gás de xisto. As importações de petróleo estão abaixo de seu nível de 2005. A Europa é mais vulnerável, mas a recessão deve limitar o campo para novas altas de preços.
Os aumentos futuros de preços estragariam sobretudo a economia dos países periféricos da Europa, que são os maiores importadores do produto. Um aumento grande dos preços afetaria mais esses países. Por exemplo, na Grécia, que é altamente dependente da importação de energia, 88% são representados pelo petróleo. Na Europa como um todo, um grande aumento dos preços causaria uma recessão profunda e uma perda de confiança nos mercados. A Grã-Bretanha está razoavelmente blindada. Embora seja importadora líquida, tem significativas reservas no Mar do Norte. Mesmo assim, o efeito líquido dos aumentos de preços poderia ser mais danoso do que o habitual, particularmente porque reduziria o risco de forte queda na demanda. Nas economias emergentes, o ambiente difere de país para país. Exportadores de petróleo com a Venezuela e o Oriente Médio ganharão com os altos preços. Os piores efeitos da elevação de preços nos mercados emergentes seriam os causados pela inflação, mas isso é menos preocupante porque isso parece não ter afetado os preços dos alimentos, que são a a maior parcela da cesta de consumo das famílias nesses países.
Em resumo, o petróleo não será uma nova Grécia. 'O petróleo mais caro tem, por ora, causado menos estrago no crescimento da economia mundial, mas isso não ajuda os países do Sul da Europa. Entretanto, 'se o estreito de Ormuz for fechado pelo Irâ, o consequente aumento nos preços do petróleo poderá interromper o processo de recuperação da economia mundial'.
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* Mailson da Nóbrega - foi ministro da Fazenda (1988 a 1990) e hoje é sócio da Tendências Consultoria Integrada e membro de conselhos de administração de empresas no Brasil e no exterior. Ele colabora com o Radar Econômico comentando artigos e reportagens relevantes da imprensa internacional. Blog: http://mailsondanobrega.com.br/blog
A revista The Economist desta semana traz interessante artigo sobre o aumento de preços do petróleo. O título 'The new grease', é um trocadilho. A palavra 'grease' (graxa, lubrificante), em inglês, tem praticamente a mesma pronúncia de 'Greece' (Grécia). O tema é o recente aumento dos preços do petróleo, que para alguns pode ter um impacto na economia, em termos de crescimento e inflação, semelhante ao que a crise da dívida soberana grega.
Os preços do petróleo estão altos, assinala a revista, mas para saber os eventuais perigos derivados desse movimento é preciso, diz, ter resposta para quatro questões: 1) qual a razão do aumento dos preços do petróleo?; 2) que altura eles podem atingir?; 3) qual o provável impacto econômico desse aumento de preços; 4) qual o estrago que causariam futuros aumentos de preço?
A resposta é negativa para a primeira pergunta. Uma frequente explicação para os aumentos recentes de preços seria a expansão de liquidez provocada pelos bancos centrais dos países ricos. Segundo se diz, a inundação de dinheiro barato induziria os investidores a buscar outros ativos, particularmente o petróleo. Acontece que o presidente do Fed, Ben Bernanke, desapontou os mercados na semana passada ao não sinalizar um novo ciclo de expansão monetária. 'Além disso, se preços em alta estão sendo impulsionados por especuladores, deveria acontecer um aumento nos estoques de petróleo. Aconteceu exatamente o contrário. Os bancos centrais podem ter influenciado indiretamente os preços do petróleo ao elevar as expectativas sobre o crescimento global. Há evidências circunstanciais para a tese, pois ao aumentos dos preços do petróleo coincidiram com um maior otimismo sobre a economia mundial, Ocorre que problemas de oferta não são uma causa mais importante. O oferta é mais relevante. Ao todo, o mercado pode ter perdido mais de um milhão de barros de petróleo por dia nos últimos tempos, por disputas sobre um oleoduto no Sudão; por problemas mecânicos no Mar do Norte e pelo embargo europeu ao petróleo iraniano.
Quanto ao máximo que o preço do petróleo pode atingir, a revista informa que os estoques nos países ricos alcançaram seu ponto mais baixo em cinco anos. Um especialista da Goldman Sachs sugere que os fundamentos de oferta e demanda empurram os preços do petróleo para US$ 118,00. O restante, seria explicado pelo medo do que possa acontecer com o Irã e sua ameaça de fechar o estreito de Ormuz, por onde circulam diariamente 17 milhões de barris . Assim, se as relações com o Irã melhorarem, as cotações do petróleo cairiam um pouco, mas ficariam próximas de US$ 120,00.'Globalmente, o custo pelos aumentos dos preços do petróleo devem ser pequenos', assinala a The Economist.
Sobre os impactos econômicos dos preços do petróleo, a revista entende que por ora eles podem ser compensados por melhorias em outros lugares. As perspectivadas para a economia mundial são melhores do que as prevalecentes no princípio deste ano. O impacto vai ser diferente em distintos países. Nos Estados Unidos, um aumento de US4 10,00 nos preços do petróleo reduz o crescimento em 0,2% no primeiro ano e 0,5% no segundo. O aumento dos preços em 2011 foi menor do que o de 2011 e 2008. O aumento do emprego aumenta a renda dos consumidores, que consomem mais petróleo. Acontece que a demanda da economia americano por petróleo está ficando menor e menos dependente das importações de petróleo. Os americanos estão dirigindo menos e comprando carros mais eficientes no uso de combustíveis. Nos Estados Unidos, os preços caíram com as grandes descobertas de gás de xisto. As importações de petróleo estão abaixo de seu nível de 2005. A Europa é mais vulnerável, mas a recessão deve limitar o campo para novas altas de preços.
Os aumentos futuros de preços estragariam sobretudo a economia dos países periféricos da Europa, que são os maiores importadores do produto. Um aumento grande dos preços afetaria mais esses países. Por exemplo, na Grécia, que é altamente dependente da importação de energia, 88% são representados pelo petróleo. Na Europa como um todo, um grande aumento dos preços causaria uma recessão profunda e uma perda de confiança nos mercados. A Grã-Bretanha está razoavelmente blindada. Embora seja importadora líquida, tem significativas reservas no Mar do Norte. Mesmo assim, o efeito líquido dos aumentos de preços poderia ser mais danoso do que o habitual, particularmente porque reduziria o risco de forte queda na demanda. Nas economias emergentes, o ambiente difere de país para país. Exportadores de petróleo com a Venezuela e o Oriente Médio ganharão com os altos preços. Os piores efeitos da elevação de preços nos mercados emergentes seriam os causados pela inflação, mas isso é menos preocupante porque isso parece não ter afetado os preços dos alimentos, que são a a maior parcela da cesta de consumo das famílias nesses países.
Em resumo, o petróleo não será uma nova Grécia. 'O petróleo mais caro tem, por ora, causado menos estrago no crescimento da economia mundial, mas isso não ajuda os países do Sul da Europa. Entretanto, 'se o estreito de Ormuz for fechado pelo Irâ, o consequente aumento nos preços do petróleo poderá interromper o processo de recuperação da economia mundial'.
* Mailson da Nóbrega - foi ministro da Fazenda (1988 a 1990) e hoje é sócio da Tendências Consultoria Integrada e membro de conselhos de administração de empresas no Brasil e no exterior. Ele colabora com o Radar Econômico comentando artigos e reportagens relevantes da imprensa internacional. Blog: http://mailsondanobrega.com.br/blog
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