As discussões sobre a viabilidade do projeto da Petrobras de construir uma embarcação do tipo GNL embarcado (FLNG) com capacidade para 14 milhões de m³ nunca estiveram tão latentes, dentro e fora da empresa. Sobretudo depois que, após meses de negociações, a petroleira declinou do consórcio Saipem/Hyundai, declarando o consórcio Technip/JGC como o ofertante do melhor preço na licitação para fornecer o projeto. |
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Assim, a petroleira tem até o início de abril para definir a quarta rota de escoamento de gás natural do cluster do pré-sal da Bacia de Santos, a ser colocada em operação após 2016. A dúvida está na planta de GNL embarcado e na construção de mais um gasoduto para o Rio de Janeiro. O estudo de viabilidade técnica e econômica (EVTE) do novo gasoduto começou a ser elaborado no fim de 2011 e está sendo desenvolvido pelas áreas de Gás & Energia e E&P, com apoio do Cenpes e da Engenharia. Como no Rota 3, opção que desbancou o FLNG no ano passado, o Rota 4 está sendo projetado para aportar em Maricá e vem sendo dimensionado para os mesmos 16 a 18 milhões de m³/dia de capacidade e extensão de 290 km do gasoduto anterior. Apesar disso, a aposta agora é que desta vez o FLNG será aprovado, a despeito das divergências dentro da própria Petrobras sobre o projeto. Segundo fontes da petroleira, o maior entrave ao projeto não é o resultado do EVTE e sim a projeção da curva de produção e consumo de gás da área de E&P, que pode não justificar a utilização desse sistema no momento. Embates internos A decisão sobre a quarta rota para o gás do pré-sal vem gerando embates entre as áreas técnicas da Petrobras. De um lado, Gás & Energia defende a escolha do FLNG. Outra área da companhia que também é favorável ao projeto é a Engenharia. O apoio à alternativa é baseado no argumento de que sua utilização trará mais ganhos para a companhia e que a adoção de gasodutos também contempla riscos. Já o E&P se mostra mais favorável ao gasoduto, alegando tratar-se de uma alternativa já dominada pela Petrobras e sem maiores riscos. Os mais críticos alegam que o FLNG é uma tecnologia nova, ainda carente de mais certificação. De fato, a tecnologia do FLNG ainda não foi testada. O primeiro GNL embarcado está sendo construído pela própria Technip para a Shell no estaleiro Samsung e irá entrar em operação no campo de Prelude, na Austrália, em 2016. Outra questão que suscita críticas da área de E&P é o fato de Gás & Energia defender que a nova unidade seja operada por ela. Como no caso das sondas de perfuração, a área de E&P quer que o ativo fique ligado à Gerência-Executiva de Serviços. US$ 500 milhões a mais Os atritos em relação ao FLNG se acirraram ainda mais no fim do ano passado, quando, após rodada de negociações iniciada depois da abertura dos envelopes de preços da concorrência para o projeto e coordenada pela Engenharia, a Petrobras anunciou a Technip como detentora da melhor proposta. Seria mais uma entre tantas negociações normalmente feitas pela petroleira, não fosse o fato de a Technip ter ficado em segundo lugar na classificação original, ofertando, num primeiro momento, uma proposta superior à da Saipem em mais de US$ 500 milhões. Em nenhum outro processo licitatório a Petrobras convocou o segundo colocado para negociar com diferença de preço tão expressiva. Na proposta original, o consórcio Saipem/Hyundai ofereceu US$ 3,29 bilhões, enquanto Technip/JGC cotou em US$ 3,8 bilhões e SBM/Chiyoda foi desclassificado por preço excessivo, com US$ 4 bilhões. A proposta de Saipem/Hyundai foi considerada boa, mas ficou US$ 40 milhões acima da expectativa da Petrobras. De acordo com fontes, a decisão de chamar a Technip para negociar foi tomada pela área de Gás & Energia depois que a Saipem concedeu um desconto pequeno, de pouco mais de 10%, no processo de revisão da proposta. Na ocasião, o pessoal da Engenharia à comissão de licitação indicava a contratação da Saipem e a conclusão da licitação, o que não ocorreu. Por isso, a iniciativa de convocar a Technip para negociar gerou mal-estar entre Gás & Energia e Engenharia. Fora da Petrobras o clima não é diferente. A perda do negócio de mais de US$ 3 bilhões foi muito mal recebida pela Saipem, sobretudo por sua sede na Itália. Coincidência ou não, o comando da Saipem no Brasil está mudando e ninguém descarta a possibilidade de novas mudanças e cortes por aqui. Também a rotina da Technip foi alterada. Mesmo saindo vencedora, a francesa também passou por mudanças em seu comando no Brasil. Crises à parte, a opção por Technip/JGC tem prós e contras para analistas. A favor pesa o fato de o grupo estar construindo uma unidade para a Shell e poder com isso acelerar sua curva de aprendizado. No geral, os projetos são semelhantes. Uma das poucas diferenças é que o navio da Shell será equipado com spread mooring, enquanto o da Petrobras terá turret. Entre os aspectos desfavoráveis está o risco de contratar uma empresa que concedeu desconto de mais de meio bilhão de dólares. “Isso não pode ser desconsiderado. Um desconto de quase US$ 600 milhões sem que tenha sido feita alteração de projeto é algo incomum e arriscado”, ressalta uma fonte |
Fonte Gasnet
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