SCGás negocia uma ampliação no limite de distribuição do combustível no Estado; oferta atual mal comporta outros empreendimentos. Federações das indústrias dos estados do Sul afirmam que é necessária expansão imediata de 5% na oferta.
O abastecimento de gás natural em Santa Catarina está muito próximo do limite.
O pico de consumo diário do ano passado, registrado em julho, foi de 2,07 milhões de metros cúbicos (m3), dentro da margem de tolerância do contrato da SCGás com a Petrobras, de 2 milhões de m3.
Na prática, se o Estado atrair duas grandes empresas, com 600 empregados cada, ou cinco de médio porte, com 350 funcionários, não haveria como fornecer gás natural aos novos projetos.
O cálculo leva em conta um estudo inédito da Federação do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), que aponta um consumo médio diário de grandes e médias indústrias de 87 mil e 25,8 mil m3.
Mesmo que nenhum novo projeto entre na equação, basta que o crescimento da demanda mantenha o nível atual para que a situação se torne crítica. O consumo médio diário saltou de 1,58 milhão de m3 em 2009, para 1,84 milhão de m3 no período entre janeiro e outubro do ano passado. Neste ritmo, alcançaria 1,97 milhão de m3 em 2012.
O limite de abastecimento afeta especialmente a indústria do Estado, que responde por 78% do gás natural distribuído pela SCGás - a fatia do GNV (gás veicular) é de 20% e o restante é absorvido pelos segmentos residencial e comercial.
E não poderia ter vindo num momento pior. Em 2011, a criação de novas vagas desacelerou 66% e a produção recuou 0,4%. Além disso, o custo do combustível influencia diretamente nos preços da indústria cerâmica, por exemplo, que perde competitividade no cenário internacional.
Na avaliação do presidente da Câmara de Energia da Federação das Indústrias de SC (Fiesc), Ütmar Müller, o suprimento do gás natural à indústria local vive momento crítico. A entidade reuniu-se com as federações do Paraná e do Rio Grande do Sul, segunda-feira, para discutir o assunto. Foi criado um grupo de trabalho que apresentará, dentro de 15 dias, um plano de ação com sugestões para ampliar o abastecimento na região Sul.
- Precisaríamos de uma expansão imediata de 5%, considerando as oscilações e os picos de consumo. Hoje, estamos no limite. Temos que mobilizar os governos estaduais para o risco, que já existe, de perdermos oportunidades para mais industrialização - avalia Müller.
Um limitador importante na oferta de gás é que os estados do Sul são abastecidos apenas pelo insumo boliviano, transportado pelo gasoduto Brasil-Bolívia (Gasbol).
Para mudar este quadro, as três concessionárias do Sul preparam um levantamento sobre os investimentos históricos da indústria da região e projeções futuras de consumo. Este documento será apresentado em reunião, dia 7 de fevereiro, na Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás). A idéia é unir forças para negociar com a Petrobras.
O objetivo da SCGás é conseguir ampliar em 50% o limite de distribuição no Estado em um prazo de 10 anos. A empresa diz que as negociações com a Petrobras estão avançadas e um acordo pode ser fechado ainda no primeiro semestre.
Para tanto, a estatal teria que elevar a capacidade de operação da estação de compressão de Siderópolis ou de Biguaçu. Isso permitiria reduzir a pressão do gás boliviano a fim de distribuí-lo para os consumidores finais. Além disso, seriam necessários investimentos em dois dos três trechos do Gasbol.
Outra alternativa seria a instalação de um terminal de regaseificação de Gás Natural Liquefeito (GNL) em SC. A futura presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, disse, no ano passado, que a construção de uma nova planta será discutida apenas em 2013.
Uma nova ameaça à competitividade
A indústria catarinense já paga caro pelo preço do gás, acima do que é cobrado em 14 de 23 países integrantes de uma pesquisa feita pela Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan). E os preços poderão ser elevados duas vezes este ano. Para fevereiro, a SCGás pede um aumento de 9,7% para todos os segmentos de consumidores do Estado.
O custo do gás é mais um dos fatores que retiram a competitividade da indústria catarinense nos mercados brasileiro e internacional. Por isso, a Federação das Indústrias de SC (Fiesc) encaminhou um ofício para o governador de SC solicitando que ele vete o aumento solicitado pela SCGás. Segundo a federação, Raimundo Colombo pode fazer isso, já que o governo é acionista majoritário da concessionária.
A pesquisa da Firjan avalia o preço de 18 distribuidoras de gás natural no Brasil em relação à média de outros 23 países para uma indústria que consumia 50 mil metros cúbicos do insumo em agosto de 2011.
De acordo com o levantamento, uma empresa com este perfil em SC pagava 118.21% a mais do que a média dos três países emergentes mais importantes no cenário internacional atual. Enquanto na Rússia, China e Índia o valor era de US$ 7,25 por 1 milhão de BTU (unidade de calor britânica) em SC o preço era de US$ 15,82.
Em relação à média dos 23 países pesquisados, o gás para a indústria catarinense saia 10,24% mais caro.E isso porque os valores da Firjan não levaram em conta o aumento das tarifas do gás, de 7,75%, repassado, em outubro do ano passado, para indústrias que consomem mais de mil metros cúbicos por dia, clientes comerciais e de GNV.
O presidente da Câmara de Energia da Fiesc, Otmar Muller, diz que setores como o de vidro e cerâmico, para os quais o preço do insumo tem um impacto relevante nos custos, perderam a competitividade.
- Nós pagamos entre 8% e15% a mais no gás natural do que indústrias na Itália e na Espanha – avalia.
Chineses pagam 17% menos por gás
Forte concorrente dos produtos catarinenses, especialmente cerâmicos, as indústrias da China conseguiam comprar 1 milhão de BTU por US$ 13,52 em agosto do ano passado, valor 17% inferior ao das indústrias catarinenses. Comparado com outros estados, o gás natural em SC seria o terceiro menor do país antes do aumento de outubro.
- Minas Gerais e o Mato Grosso do Sul também consomem gás importado, que é mais barato do que o nacional. Para estes estados, o preço fica mais baixo do que em SC porque eles têm um custo menor de transporte – explica Cristiano Prado, gerente de Competitividade Industrial e Investimentos da Firjan.
Ainda de acordo com o estudo, SC teria a quarta maior margem praticada no mercado atrás apenas da Paraíba, do Rio Grande do Sul e do Paraná. Ela representaria 23,7% da tarifa cobrada das indústrias em agosto do ano passado.
Mas, segundo a SCGás, esta margem teria caído com o aumento da commodity. A margem, em dezembro teria caído com o aumento da commodity. A margem, em dezembro, teria caído para 10,97%. Na opinião de Prado, é difícil avaliar se as margens adotadas pelas diferentes concessionárias são adequadas ou não.
De acordo com a SCGás, o aumento das tarifas, de 9,7% para vigorar a partir de fevereiro, representaria apenas parte do repasse referente ao aumento do custo de aquisição do gás que, segundo a concessionária, teria subido quase 50% entre o final de 2010 e o de 2011.
O presidente da Câmara de Energia da Fiesc questiona o aumento do preço do combustível do preço do combustível alegado pela companhia SCGás.
- Gostaria de ver uma documentação que comprovasse essa elevação de 50%. Tivemos oscilações de câmbio e do preço do petróleo no período, mas nada que chegasse a tanto – ressalta.
Fonte: Gasnet
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