Durante anos a Petrobras flertou com o mercado de gás canalizado de São Paulo, mas o clima político não lhe era favorável para “consumar o ato”. A italiana ENI, então controladora da Gás Brasiliano Distribuidora (GBD), há tempos sinalizava sua intenção de deixar a empresa. O pré-sal, porém, criou novas perspectivas de desenvolvimento de negócios para a petroleira brasileira e também quebrou a resistência do governo paulista de “estatizar” a distribuidora.
Assim, não havia razão lógica para barrar a mudança de controle de uma concessão que, em pouco mais de uma década, avançou apenas o mínimo na difusão do energético no noroeste de São Paulo. Com um mercado potencial de 375 municípios, distribuídos por metade do estado, a GBD ligou até agora apenas 19 deles, com uma rede de 755 km. A carteira de clientes está perto de 7 mil, e o volume diário de vendas em 2010 ficou em 657 mil ³, em média.
Agora há uma expectativa crescente em torno dos projetos da Petrobras para a distribuidora. Permanece o receio de que o negócio não receba a atenção que merece ante os megadesafios impostos pelo Plano de Negócios 2011-2015 da petroleira. O histórico de expansão das demais concessionárias estaduais que contam com a participação da empresa também não anima.
Universalização
“É preciso haver planos e metas para atendimento da população e da indústria”, cobra o diretor do Departamento de Infraestrutura da Fiesp, Carlos Cavalcanti. E o recado não é só para a Petrobras. Para ele, a Agência Reguladora de Saneamento e Energia de São Paulo (Arsesp) foi condescendente demais com os italianos, preocupando-se exclusivamente em preservar o equilíbrio econômico-financeiro da concessão. Ele espera que a Secretaria de Energia de São Paulo atue de modo efetivo na indução de novos investimentos. “A agência tem de ser independente, mas é preciso haver política pública de universalização. Ou vamos deixar a Gás Brasiliano fazer o que quiser nos próximos 20 anos?”, provoca.
Apresentado durante o último processo de revisão tarifária e em vigor desde 2010, o plano de negócios da GBD até o horizonte de 2014 é considerado tímido demais. Para uma ampliação de rede de 154,6 km, a previsão é desembolsar R$ 98,3 milhões nesse período. O montante equivale ao que a Petrobras gasta com o aluguel de uma única sonda em apenas quatro meses de operação. A Comgás, numa área mais madura e de extensão geográfica menor, aporta pelo menos cerca de R$ 400 milhões anualmente. Montante superior aos R$ 360 milhões que a GBD investiu entre 2000 e 2009.
Small LNG
Um estudo produzido pela Gas Energy para um dos grupos que participou da concorrência promovida pela ENI apontou que, em cinco anos, a GBD poderia alcançar um mercado de 5 milhões de m3/dia. O conteúdo completo do estudo ainda está sob sigilo contratual, mas Marco Tavares, diretor da consultoria, dá algumas pistas sobre por onde a Petrobras pode trabalhar. “A Gas Natural SPS faz um excelente trabalho no sul do estado, muito mais pobre”, compara.
O volume projetado pela consultoria inclui ao menos uma termelétrica e apoio a empreendimentos estruturantes, como a planta de fertilizantes em Minas Gerais. Os principais clientes industriais já foram atendidos.
O deslocamento do GLP em grandes consumidores, inclusive os atendidos pela Liquigás, também controlada pela petroleira, é tido como líquido e certo, pois o gás natural é mais competitivo. “Identificamos ainda um grande potencial de desenvolvimento para GNC e também para a instalação de plantas de Small LNG, com volumes de 100 mil m³ a 300 mil m³, já que ainda não foram desenvolvidos mercados interessantes em razão das grandes distâncias”, detalha Tavares.
Ele também enxerga oportunidades nas usinas de etanol e açúcar como âncoras de sistemas, gerando energia elétrica por todo o ano com biomassa complementada a gás.
Da GBD para Minas Gerais
Apesar das dúvidas, a entrada da Petrobras na Gás Brasiliano promete aquecer o mercado da distribuidora. Com planos de fornecer gás natural à fábrica de fertilizantes (UFN V) de Uberaba (MG) a partir da malha da GBD, a petroleira espera matar dois coelhos numa cajadada só: valorizar o ativo recém-adquirido e, de quebra, antecipar a operação da unidade de amônia de setembro de 2015 para dezembro de 2014.
De acordo com projeções do Plano de Negócios 2011-2015, a Petrobras espera aumentar o volume de vendas da GBD em 200%, no mínimo, até 2015, se confirmado o fornecimento para a UFN V. A estimativa é que a planta de amônia consuma 1,25 milhão de m3/dia, volume superior aos 1,12 milhão de m3/d previstos no plano sem considerar o consumo da nova planta.
“Se a opção de fato for essa, praticamente dobramos o volume potencial. Só aí, o aumento de valor de negócio já é um ganho bastante expressivo para a Petrobras”, afirma a diretora de Gás e Energia da petroleira, Maria das Graças Foster.
O plano da Petrobras para a GBD só será possível porque a Cemig, controladora da Gasmig, e a petroleira estudam construir uma rede de distribuição interestadual como alternativa à implementação de um gasoduto de transporte – que teria de ser licitado – para suprir a planta de amônia de Uberaba.
A Gás Brasiliano já possui hoje um gasoduto de 91 km entre São Carlos (SP) e a região de Ribeirão Preto. Assim, a ideia da Petrobras é construir mais uma rede de 151 km até Minas Gerais, onde a malha seria conectada a um gasoduto de distribuição de 8 km na área de concessão da Gasmig.
“O gasoduto de transporte é regido pela Lei do Gás. Já o modelo de distribuição está sujeito às regras de São Paulo e Minas Gerais. Se adotarmos esse modelo, será a primeira integração entre dois estados via gasodutos de distribuição”, esclarece Graça.
Além das vantagens regulatórias, a construção de uma rede de distribuição a partir do ramal São Carlos-Ribeirão Preto demandaria a implementação de 159 km de rede. Já o gasoduto de transporte previsto teria 256 km de extensão.
Fonte: Brasil Energia, 06/09/2011
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